DN, 2009.12.28
As palavras do Papa são desvalorizadas pela associação ILGA, que considera que a Igreja não tem nada de interessante a dizer sobre o casamento civil. Homossexuais católicos dizem ser urgente repensar posição da Igreja.
O Papa Bento XVI saiu ontem em defesa da família "fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher", num vídeo difundido no encontro das famílias que decorreu em Madrid e onde estiveram dezenas de portugueses. Uma mensagem que insiste num tema que alguns bispos portugueses abordaram recentemente, a propósito da aprovação do casamento gay. Mas, para os católicos homossexuais portugueses, a Igreja tem de repensar urgentemente as relações afectivas entre pessoas do mesmo sexo.
No Domingo da Sagrada Família, foi em castelhano que o Sumo Pontífice se dirigiu aos milhares de cristãos de toda a Europa reunidos em Madrid para o terceiro encontro das famílias, uma iniciativa criada dois anos depois da aprovação do casamento gay em Espanha. Bento XVI enviou uma mensagem por videoconferência, apelando à defesa e promoção da família "baseada no casamento entre um homem e uma mulher". O Papa afirmou que Deus veio ao mundo "no seio de uma família", e que esta instituição é o caminho mais seguro para encontrar e conhecer" Deus.
O cardeal arcebispo de Madrid, António Rouco Valera, foi mais longe na sua recusa do casamento entre pessoas do mesmo sexo, que afirmou ser "contra a natureza". Rouco Valera advertiu que o discurso actualmente utilizado sobre os diversos modelos de família "é avassalador e não responde à verdade natural da família". O bispo espanhol desenhou um panorama desolador para "os valores cristãos da família", devido à aceitação social do divórcio, do aborto e dos "diversos modelos", distintos do que considera ser o "verdadeiro matrimónio entre um homem e uma mulher".
O Grupo Homossexual Católico Rumos Novos, por sua vez, diz ser "urgente, por parte da Igreja, uma nova visão sobre a sexualidade humana e sobre as relações afectivas estáveis entre pessoas do mesmo sexo".
Num comunicado sobre as alterações propostas pelo executivo português ao casamento civil, o grupo Novos Rumos considera que "defender o Amor e as relações afectivas estáveis entre pessoas do mesmo sexo é também a tradução prática" do cristianismo, "porque Jesus Cristo pregou um Deus inclusivo e do Amor e não um Deus do medo e da exclusão, ao contrário do que defendem alguns sectores da própria Igreja".
Já para Paulo Côrte-Real, da Associação ILGA (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero), este discurso não surpreende. "Nós sabemos à partida que a Igreja tem dificuldade em aceitar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo", lembra.
Mas para o activista, o Vaticano perdeu toda a credibilidade como interlocutor "a partir do momento em que se recusou a apoiar, nas Nações Unidas, uma declaração em favor da despenalização universal da homossexualidade, porque temia que servisse para promover o casamento homossexual". Paulo Côrte-Real lembra que há dezenas de países que ainda têm leis que criminalizam o sexo consensual entre adultos do mesmo sexo .
Assim, considera que a Santa Sé "não tem qualquer contributo interessante para a discussão sobre o fim da discriminação dos homossexuais" - "porque é isso que está em causa quando se discute o casamento entre pessoas do mesmo sexo", conclui.
As palavras do Papa são desvalorizadas pela associação ILGA, que considera que a Igreja não tem nada de interessante a dizer sobre o casamento civil. Homossexuais católicos dizem ser urgente repensar posição da Igreja.
O Papa Bento XVI saiu ontem em defesa da família "fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher", num vídeo difundido no encontro das famílias que decorreu em Madrid e onde estiveram dezenas de portugueses. Uma mensagem que insiste num tema que alguns bispos portugueses abordaram recentemente, a propósito da aprovação do casamento gay. Mas, para os católicos homossexuais portugueses, a Igreja tem de repensar urgentemente as relações afectivas entre pessoas do mesmo sexo.
No Domingo da Sagrada Família, foi em castelhano que o Sumo Pontífice se dirigiu aos milhares de cristãos de toda a Europa reunidos em Madrid para o terceiro encontro das famílias, uma iniciativa criada dois anos depois da aprovação do casamento gay em Espanha. Bento XVI enviou uma mensagem por videoconferência, apelando à defesa e promoção da família "baseada no casamento entre um homem e uma mulher". O Papa afirmou que Deus veio ao mundo "no seio de uma família", e que esta instituição é o caminho mais seguro para encontrar e conhecer" Deus.
O cardeal arcebispo de Madrid, António Rouco Valera, foi mais longe na sua recusa do casamento entre pessoas do mesmo sexo, que afirmou ser "contra a natureza". Rouco Valera advertiu que o discurso actualmente utilizado sobre os diversos modelos de família "é avassalador e não responde à verdade natural da família". O bispo espanhol desenhou um panorama desolador para "os valores cristãos da família", devido à aceitação social do divórcio, do aborto e dos "diversos modelos", distintos do que considera ser o "verdadeiro matrimónio entre um homem e uma mulher".
O Grupo Homossexual Católico Rumos Novos, por sua vez, diz ser "urgente, por parte da Igreja, uma nova visão sobre a sexualidade humana e sobre as relações afectivas estáveis entre pessoas do mesmo sexo".
Num comunicado sobre as alterações propostas pelo executivo português ao casamento civil, o grupo Novos Rumos considera que "defender o Amor e as relações afectivas estáveis entre pessoas do mesmo sexo é também a tradução prática" do cristianismo, "porque Jesus Cristo pregou um Deus inclusivo e do Amor e não um Deus do medo e da exclusão, ao contrário do que defendem alguns sectores da própria Igreja".
Já para Paulo Côrte-Real, da Associação ILGA (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero), este discurso não surpreende. "Nós sabemos à partida que a Igreja tem dificuldade em aceitar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo", lembra.
Mas para o activista, o Vaticano perdeu toda a credibilidade como interlocutor "a partir do momento em que se recusou a apoiar, nas Nações Unidas, uma declaração em favor da despenalização universal da homossexualidade, porque temia que servisse para promover o casamento homossexual". Paulo Côrte-Real lembra que há dezenas de países que ainda têm leis que criminalizam o sexo consensual entre adultos do mesmo sexo .
Assim, considera que a Santa Sé "não tem qualquer contributo interessante para a discussão sobre o fim da discriminação dos homossexuais" - "porque é isso que está em causa quando se discute o casamento entre pessoas do mesmo sexo", conclui.
por PATRÍCIA JESUS
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