Nosso Senhor foi à piscina de Betzatá; encontrou um homem doente há trinta e oito anos, e disse-lhe: "Queres ser curado?" [...] Meus filhos, reparai bem que este doente permaneceu ali longos anos. Este doente estava destinado a servir a glória de Deus, e não a morte (Jo 11, 4). Ou, se quiséssemos esforçar-nos por compreender, em espírito de verdadeira paciência, o ensinamento profundo contido no facto de um doente ter esperado trinta e oito anos que Deus o curasse e ordenasse que se fosse embora!
Isto destina-se a pessoas que, mal começando uma vida ligeiramente diferente e não vendo produzir-se de imediato as grandes coisas esperadas, crêem estar tudo perdido e se queixam de Deus como se Ele as tratasse injustamente.
São poucos os homens que possuem esta nobre virtude de se abandonarem e resignarem, que se aceitam como são e suportam a própria enfermidade, os próprios obstáculos e as próprias tentações, até que o próprio Senhor os cure.
[...] Que poder e que autoridade são dados a este homem? Na verdade, é a ele que é dito: "Levanta-te, não podes continuar deitado, deves sair triunfante do cativeiro, ser salvo e andar em total liberdade; levarás a tua cama, ou seja, aquilo que antes te levava a ti, e deves erguê-la e levá-la agora com autoridade e força." Aquele que o próprio Senhor libertar será bem libertado, andará cheio de alegria e, após esta longa espera, obterá uma liberdade maravilhosa, de que são privados todos os que julgam que se libertam a si mesmos quebrando os seus laços antes do tempo.
Jean Tauler (c. 1300 - 1361), dominicano de Estrasburgo
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