«Porquê
este entusiasmo das multidões pelo Papa? Porquê o fervor das gentes
pela pessoa humana do representante de Cristo? Que há, na sua pessoa,
que explique esta atracção? Que tem o bispo de Roma - o actual, ou os
seus antecessores - que tanto fascina homens e mulheres de todas as
idades e condições?
Não
será exagerada esta exaltação do ser humano que ocupa a cátedra de
Pedro? Não é afinal um simples mortal? Quando à sua pessoa se atribuem
poderes mágicos, não se estará a incorrer porventura em superstição?
Onde termina o culto da sua personalidade, em princípio aceitável, e
começa uma inadmissível idolatria?
Os
muçulmanos não veneram o seu profeta, Maomé, nem permitem qualquer
representação de Alá. Os judeus não se consideravam sequer dignos de
pronunciar o santo nome de Iavé. Até os evangélicos baniram dos seus
templos as imagens sagradas e proíbem a devoção aos santos.
O
Papa, seja ele quem for, é o máximo representante da comunidade
eclesial: o primeiro na honra e no serviço - o servo dos servos de Deus -
de uma Igreja muito humana e muito divina, porque é mistério de
comunhão no mistério uno e trino que Deus é. O Ser absolutamente
transcendente fez-se visível no rosto de Jesus, verdadeiro homem e
verdadeiro Deus. Por isso a religião cristã, mais do que uma doutrina ou
uma moral, é Alguém que eleva o homem a Deus e leva Deus ao homem. É na
humanidade de Cristo que o próprio Deus se revela e é também através da
humanidade do Papa e da Igreja que Cristo se faz presente em cada
momento histórico. Pedro é afinal, aqui e agora, a expressão visível em
que, para o mundo, se reflecte o olhar vivo, humano e divino, de Cristo,
o rosto de Deus.»
Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada
Ionline, 2013-07-27
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