Entramos no santo tempo da Quaresma. Somos convidados a viver este grande retiro que a Igreja propõe aos fiéis, para preparar a Páscoa, num ambiente de espiritualidade, incrementado pela prática dos meios tradicionais de penitência e ascese cristã, particularmente recordados nesta altura: a oração, a esmola e o jejum. Lembra-os também o Santo Padre, na sua mensagem para a Quaresma. Nas nossas comunidades paroquiais mantém-se vivo o piedoso hábito da Via-Sacra. Em vários lugares, a celebração das “Quarenta Horas”, é, através da Adoração ao Santíssimo Sacramento e da pregação, ligadas ao Sacramento da Penitência e participação na Eucaristia, ocasião importante de reflexão e de conversão. É bom que alimentemos e intensifiquemos estas tradições, cultivando-as e valorizando-as com iniciativas que, sem lhe diminuírem a autenticidade e o fervor, suscitem o interesse e a participação de todos, designadamente dos nossos jovens. O tempo quaresmal é ocasião favorável para, individualmente ou em grupos, meditar e rezar mais assiduamente a Palavra de Deus. Porque não fomentar, neste Ano Paulino, a leitura das Cartas de S. Paulo, procurando aprofundar nelas o mais genuíno sentido da Páscoa e da Ressurreição? Que a Quaresma seja oportunidade também de as famílias cristãs sensibilizadas para a importância do Sacramento do Matrimónio, encontrarem tempo em cada dia para a oração familiar do terço, dando ao Lar o clima favorável ao crescimento da fé e tornando-o com mais verdade igreja doméstica.
A atenção aos outros, com gestos de acolhimento e de solidariedade, sobretudo aos pobres, aos doentes, aos idosos que experimentam a solidão, aos mais fragilizados e tantas vezes esquecidos e marginalizados, numa disponibilidade desinteressada e numa generosa partilha de tempo, de presença ou de bens materiais, interligada com a interioridade conseguida pela oração, é outro meio de melhorarmos a vivência cristã deste santo tempo. O lugar próprio para cultivarmos este comportamento é em primeiro lugar a comunidade paroquial, onde descobriremos necessidades e carências, às vezes silenciadas por vergonha, o que torna mais urgente a nossa solicitude. Vão-se multiplicando por iniciativa da Caritas Diocesana as assim denominadas lojas da partilha, facilitando a comunhão fraterna e alimentando o espírito de caridade que dá sentido ao viver cristão. Mas não limitaremos a atenção ao nosso meio. Pensaremos noutros que muito longe vivem situações de extrema pobreza geradoras de morte irremediável. O destino da nossa renúncia quaresmal é o Darfur, onde é missionário um sacerdote da nossa diocese, e cuja tragédia humana parece não acabar, e não pode ser ignorada por ninguém.
Na mensagem deste ano para a Quaresma, Sua Santidade Bento XVI destaca a prática do jejum, vivida por motivos autenticamente espirituais, “como «terapia» para curar tudo o que nos impede de nos conformarmos com a vontade de Deus”. No sentido próprio o jejum está ligado à privação de alimentos, mortificando pela sobriedade o paladar, mas poderemos abrir-lhe um horizonte mais vasto ligado a uma quantidade enorme de renúncias e pequenas mortificações: jejum de atitudes e de palavras, desde o uso moderado dos meios de comunicação, por exemplo, televisão, rádio, C.D., Internet, telemóvel, o próprio automóvel; até aos hábitos de descanso e lazer, tantas vezes expressão de preguiça e modo de malbaratar o tempo, com futilidades e má-língua; ou às atitudes de orgulho, amor-próprio, caprichos, auto-suficiência, que dificultam a mútua compreensão e tolerância, e impedem a obrigação de nos perdoarmos com magnanimidade…, as quais muito melhorarão a nossa vida cristã e tornarão mais dinâmico o nosso testemunho. Toda a ostentação, ou ganância são perversas e escandalosas, e em tempo de penúria para tanta gente, chega a ser insulto agressivo aos pobres. Se as renúncias referidas significarem economia material, poderão, além disso, valorizar extraordinariamente a partilha, não tanto pela quantidade, mas pelo espírito que traduzem.
Que a Mãe da Divina Graça e Senhora da Misericórdia nos acompanhe neste tempo favorável, para que, renascidos e purificados, celebremos com verdadeira alegria a Ressurreição do Senhor.
Na mensagem deste ano para a Quaresma, Sua Santidade Bento XVI destaca a prática do jejum, vivida por motivos autenticamente espirituais, “como «terapia» para curar tudo o que nos impede de nos conformarmos com a vontade de Deus”. No sentido próprio o jejum está ligado à privação de alimentos, mortificando pela sobriedade o paladar, mas poderemos abrir-lhe um horizonte mais vasto ligado a uma quantidade enorme de renúncias e pequenas mortificações: jejum de atitudes e de palavras, desde o uso moderado dos meios de comunicação, por exemplo, televisão, rádio, C.D., Internet, telemóvel, o próprio automóvel; até aos hábitos de descanso e lazer, tantas vezes expressão de preguiça e modo de malbaratar o tempo, com futilidades e má-língua; ou às atitudes de orgulho, amor-próprio, caprichos, auto-suficiência, que dificultam a mútua compreensão e tolerância, e impedem a obrigação de nos perdoarmos com magnanimidade…, as quais muito melhorarão a nossa vida cristã e tornarão mais dinâmico o nosso testemunho. Toda a ostentação, ou ganância são perversas e escandalosas, e em tempo de penúria para tanta gente, chega a ser insulto agressivo aos pobres. Se as renúncias referidas significarem economia material, poderão, além disso, valorizar extraordinariamente a partilha, não tanto pela quantidade, mas pelo espírito que traduzem.
Que a Mãe da Divina Graça e Senhora da Misericórdia nos acompanhe neste tempo favorável, para que, renascidos e purificados, celebremos com verdadeira alegria a Ressurreição do Senhor.
D. Jacinto Tomaz Botelho, bispo de Lamego
0 comentários:
Enviar um comentário